O silêncio previsível de Barack Obama



Há alguns meses escrevi um artigo que alertava quanto às excessivas expectativas em relação à eleição do senador Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos. Incensado como uma espécie de novo messias da humanidade, Obama ganhou as páginas da mídia internacional prometendo encerrar a chamada era Bush, o presidente fundamentalista e belicista que representou durante oito anos a “América profunda”. George Bush seria o fidedigno retrato dos "nucas vermelhas", os fazendeiros brancos, racistas e reacionários do sul dos Estados Unidos. Um presidente negro representaria outros interesses. A princípio. Portanto, não cheguei a vibrar com o fato e procurei dosar o entusiasmo dando o devido desconto ao carnaval midiático. Às notícias, faltavam os necessários filtros requeridos para uma avaliação mais serena acerca da eleição de Obama. Passada a euforia, dois episódios se apresentam necessários para uma ponderação mais equilibrada: a crise econômica e o massacre israelense na Faixa de Gaza. No primeiro, Obama, ainda candidato e depois já eleito, manteve-se atuante para debelar o problema. Deu palpites, conversou com banqueiros e industriais e mobilizou sua equipe de assessores econômicos para trabalhar junto à Casa Branca na aprovação do pacote de US$ 750 bilhões de ajuda aos banqueiros; Já em relação ao segundo episódio, o silêncio. Aliás, Obama já sinalizara em julho passado sua “lealdade indestrutível” à segurança e ao direito de “autodefesa” israelense. Na verdade, a permuta de um representante republicano por um democrata em nada afeta a política externa estadunidense. Não são dois partidos e sim dois lobbys de mega interesses que se alternam no governo dos Estados Unidos desde a constituição daquela república, considerada “a maior democracia do mundo”. Há quem acredite. E a eleição de Barack Obama, a despeito da sua importância simbólica para a humanidade, não consegue romper esse sistema. A propósito, é integrado a ele, lamentavelmente. E, o pior, o massacre perpetrado por Israel é cronologicamente dosado, acontece antes da posse de Barack Obama, que, após assumir o cargo, buscará fazer a “paz” entre o Estado judeu e o que sobrar de Gaza. Já são mais de 1.500 mortos, entre os quais cerca de 200 crianças. Será a paz dos túmulos. A “paz” que interessa a Israel, já que movida pelo subjugo de uma nação sem chão. Será essa a “esperança” que Barack Obama representa? Enquanto isso, no inferno de Gaza, a Cruz Vermelha está sendo impedida de ter acesso à população atingida pela chuva de bombas israelense. Segundo a organização, seus funcionários presenciaram cenas dantescas. Uma equipe médica disse ter encontrado pelo menos 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitun, ao sul da Cidade de Gaza. Junto aos cadáveres, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpos de suas mães. A Cruz Vermelha afirma que os agentes humanitários foram impedidos de chegar ao local por dias após o bombardeio. Obama continuará calado?

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