Quem quer se vingar de Battisti?



Muito tem se falado sobre o caso Cesare Battisti. Mas pouco tem sido explicitado acerca dos fatos que o cercam. Notícias lâminas d´água e comentários sem pé nem cabeça, mas açodados politicamente com o intuito de defenestrar o ministro Tarso Genro têm pairado a granel. Virou questão de honra para a mídia nativa a extradição do ex-militante comunista e romancista italiano. Políticos conservadores da Itália têm ganhado espaço nos meios de comunicação do Brasil, arrotando um moralismo mambembe, com a anuência de alguns não menos conservadores jornalistas e políticos locais. O ministro está certo! Não se pode entregar Battisti à vendeta de governantes que até pouco tempo atrás estavam ombrados com a Máfia e banqueiros corruptos. Acusam Battisti de quatro homicídios. Ele nega. Na Itália, não lhe foi dado o direito à ampla defesa. Trata-se de um processo viciado e permeado por interesses ideológicos. É verdade que o escritor militou na organização clandestina Proletários Armados pelo Comunismo. Porém, poucos sabem, de fato, sobre o papel que esse grupo, entre outros, desempenhou na Itália nos anos 70 e 80. O libelo de jovens militantes, mesmo optando, por vezes, por estratégias inconseqüentes, foi determinante para começar a minar a aliança formada desde 1945 entre a Democracia Cristã e a máfia italiana. Eles enfrentaram a máfia, que até então nunca tinha sido encurralada e atingida. Enquanto juízes e promotores eram eliminados, um a um, pelos mafiosos, Battisti e outros jovens militantes não arrefeceram na guerra a esses grupos sanguinários. Realmente, ocorreram muitas baixas, de ambos os lados. E foi a partir desses episódios que foi desfechada a Operação Mãos Limpas, a maior iniciativa policial e política contra os grupos mafiosos na Itália. Leiam o livro "Poteri Forti" ("Fortes Poderes"), do jornalista italiano Ferruccio Pinotti. Trata-se de uma reportagem de fôlego, que abre as entranhas do poder de corrupção do sistema financeiro, de braços dados com governos, partidos, empresários, maçonaria e a mafia. É a aliança entre a máfia e o Banco Ambrosiano, ligado ao Vaticano. O presidente Lula e o ministro Tarso Genro estão corretos. Não se curvaram ao alarido demagógico perpetrado pela mídia nacional e seus partners políticos. Ceder à extradição de Battisti é ceder à sanha de vingança da direita italiana, corrupta e mafiosa.

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