Os ovos e suas serpentes



As serpentes voltam a rasgar as cascas dos ovos. A insubordinação de policiais militares ocorrida esta semana em Vitória da
Conquista, no sudoeste baiano – distante 520 quilômetros de Salvador -, que não admitem as investigações para elucidar o assassinato de 14 pessoas e o desaparecimento de três menores na cidade, é um pequeno sintoma da doença moral que atinge diversas parcelas da sociedade brasileira. E o histórico clínico dessa enfermidade remonta, em boa medida, à institucionalização da violência e da impunidade que imperou ao longo do regime civil-militar que perdurou no país por 22 anos. São demônios ainda manifestos e que resistem de forma estridente a qualquer tentativa de exorcismo. Para eles, o respeito à legalidade constitucional é entendida como vingança, retaliação e revanchismo. Ao tentar rechaçar o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3, um documento debatido por diversos segmentos sociais, a fina flor da entourage direitista insiste na falseta de um salvo-conduto que acobertou-se no manto do Estado para perpetrar os mais bárbaros crimes. Torturar, seviciar, estuprar e matar passaram a ser práticas compreendidas como normais para integrantes civis e militares da repressão. Entendiam eles estar numa “guerra”, mesmo que muitos dos seus inimigos nem armas portassem. E, por efeito inércia, este expediente continua valendo para os atuais perpetradores da justiça do eu mesmo. O nefasto exemplo vem lá de trás. O posicionamento dos policiais militares no interior baiano é uma reação análoga e derivada à perpetrada pelo alto oficialato que se reúne nos clubes militares em manifesta ode saudosista ao período do regime civil-militar. Desejam ambos a impunidade. Fazendo coro à meia-boca, os meios de comunicação corporativos do pais lhes rendem solidariedade porque foram no passado co-participes no arbítrio, e quando não nos próprios atos. Só é lembrar a atuação da Folha de São Paulo, da família Frias, que cedia os carros da empresa à Operação Bandeirantes (Oban) para caçar, torturar e matar perseguidos políticos. A existência desses grupos de extermínio, que têm a ousadia de se insubordinar e defender assassinos uniformizados, mesmo que pagos pelo Estado para proteger os cidadãos, é o exemplo cabal de que a raiz desse mal tem que ser extirpada. E a única maneira de fazê-lo é com a necessária assepsia nestas feridas abertas no passado recente que muitos desejam que não se cicatrizem.

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